Outros apontamentos sobre os encontros de improvisação espontânea com o canto
Ah,
"passar o rodo" é uma expressão futebolística, que significa massacrar o
adversário e marcar gols e ganhar o jogo, quiçá o campeonato.
Nesse jogo de chegar e cantar num grande grupo, como o que temos feito desde agosto, não é para se encontrar adversários.
Estou tentando nos colocar em contato com estranhos, que cantam também,
que tem potência. Estranhos, estrangeiros, diferentes, outros sons,
outras texturas, outros raciocínios musicais. Para que o nosso dê um
salto quântico. De uma vez por todas.
Como foi estranhamento
puro o nosso encontro com a rapaziadinha na última quarta. Recuamos, é
certo, talvez para não fazê-los pressionar a coisas que eles não podiam
nos dar de pronto, mas foi um bom trabalho, repito! Eu iria ficar
surpresa caso algum deles viesse me pedir: vamos fazer um som desses na
formatura. Havia mediadores demais, para conter, refrear. Refrear, talvez, o
desejo implícito de "massacre".
Massacre é a parte primeva da
humanidade. Acredito que nossa geração não poderá presenciar aos homens
depondo enfim as armas e amando, porque amar é bom, e amar tudo, o que é
sólido, líquido, gasoso e outros estados de ânima que desconheço.
O medo virá, é certo, a gente se sente sozinho, é certo, no meio de
tanta gente. Barulho e exacerbação de egos ocorrerá. Confusão sísmica no
corpo ocorrerá. Não dá para saber se é excitação sexual, se um jato
exagerado de adrenalina. Qualquer coisa assim. Daí que me ocorreu falar
em "passar o rodo". Que é essa a descrição que jogadores do naipe do
Zico, Sócrates, Rai fizeram, no que se refere a saber que o jogo estava
ganho antes de sair do túnel para o campo.
Na última quarta-feira não fomos
vorazes, fomos doces, porque afinal eram "crianças acuadas" partilhando a experiência. Ledo engano, voces verão no video o rito das fileiras. Eu
estava angariando no exercício a força, a mais primeva, antes de fazer
as pazes com a potencia.
E Deleuze e Guattari poderiam
participar desse papo cabeça unilateral. E o cara da percepção, Satre
também,mas o outro, fugiu o nome, já lembro. E Kandinski e seu "Do
espiritual na arte" - o termo espiritual neste trabalho, cantante, tem
outra conotação que a que professamos. Bonito igualmente, mas outro
olhar sobre o objeto. Merleau Ponty é o cara cujo nome me escapou, vixi... papo cabeça
demais... Bora ouvir Wladmir Godar e seu Mater...
A garganta
vai secar, a mente trava e as conexões neuronais tem pequenos colapsos.
Pode me chamar do que quiser, estou pedindo para que você, num momento
desses, la no dia 24, mexa-se na roda e segure a mão de alguém menos
estranho. Ou do mais estranho de todos. Pegue a mão da pessoa e perceba a
potencia. Potencia é diferente de força, de gana, de garra. Potência é
antes da vida, é o que gera a vida.
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