segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Entradas e bandeiras

 
*gralha azul

Conheci o Professor Inami Custodio Pinto no inicio de 1981. Eu era cantora do Coral do Colégio Estadual do Paraná e na noite do concerto eu fazia o solo da Gralha Azul. O Professor estava na plateia e, nos cumprimentos, perguntou-me se eu gostaria de conhecer a Faculdade de Educação Musical do Paraná, onde ele ministrava aulas de Folclore. Assim começou meu contato com essa figura emblemática, que resignificou minha juventude e encaminhou meu trabalho musical. As aulas do Inami eram simples na forma. Inami contava-nos causos de suas andanças pelo litoral paranaense, alertava sobre a perda de identidade dos povos pescadores, ia nos cantando cantigas de índios, ensinando antigas danças e costumes, incutindo em nos amor pela natureza, pelas celebrações, respeito as diferenças e níveis de evolução. Vivemos com o Inami um momento de transição entre aculturação e reconstituição do folclore litorâneo paranaense. As casas de Fandango em Valadares andavam meio caladas na década de 1980. Os jovens do local estavam a preferir ouvir a musica eletrificada pelos sistem da época, aqueles "radiões " que os dançadores de street dance usavam colados ao ouvido. Compreendemos, através dos ensinamentos do Inami, que o folclore responde as necessidades do povo e sobrevive de acordo com tais necessidades. Que pode ir e vir. Como as fases da lua. Que as tradições são importantes ate o momento em que se adequem ao cotidiano da comunidade. Que devem mover-se, tais tradições.  modificar-se, reinscrever-se em novos cotidianos. Que o folclore, portanto, e dinâmico e renovável, funciona como o renascer das coisas após uma tempestade. Que Curitiba sempre foi um porto de passagem, rota de tropeiros, lugar de viajores, que essa natureza desenraizada da cidade e sua gente e uma característica importante e fartamente investigável do ponto de vista afetivo e científico. Ate hoje, baseada no modo de ensinar do Inami, sei refazer as marcas do Fandango com meus alunos. Sei cantar a Balainha, a Cana Verde, o Cua Fuba, sei fazer Barreado e uma boa sopa de peixe. Sei dizer e musicar varias lendas indígenas, a mais marcante a de Naipi e Taroba. Do universo litorâneo paranaense apresentado pelo Inami veio o meu interesse pela musica do mundo. Ai conheci o Terra Sonora, e então tem inicio outra historia. Obrigada, Inami, pela sua participação afetiva.

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