domingo, 23 de abril de 2017

Ideias revisitadas








Boa tarde.
São mais de trinta anos convivendo com pessoas que cantam, profissionais e leigos (a maioria dos convivas). Desses encontros surgiram muitas ideias, dentre elas fazer um trabalho socorrista (e hoje há cursos especializados de ótima qualidade nessa área - Arteterapia, Musicoterapia e outros espaços na Medicina, Psiquiatria, Homeopatia e tantas correntes), que auxiliasse os praticantes e seu público e atingir  bem estar e consciência.
Ao escrevermos este post, não tínhamos a intenção de anunciar uma técnica, escola. Apenas registrar um dos momentos que vivemos, dentro dos liames do ensino acadêmico. Àqueles cujo assunto remeter a outras pesquisas, experimentações e atuações melhor conceituadas, agradecemos antecipadamente links, comentários e outras direções.
Tomamos, como recurso para realizar a presente preparação vocal socorrista, a improvisação.
Em uma improvisação vocal, muitas práticas vão emergindo com naturalidade: o cantor leigo vai se habituando à escuta do timbre e variações, sente a estabilidade das vibrações, controla a duração dos tons, combina-os criativamente e permite-se expressar ideias espontâneas e ao mesmo tempo raciocinadas; os embaraços orgânicos apresentam-se em proporções tangíveis nas células rítmicas e melódicas, para serem soçobrados na medida da propriocepção – trabalhamos para equilibrar tais perdas; os movimentos psíquicos antecedem essa percepção, revelando-se em esboços ou mesmo temas musicais consolidados, que podem ser analisados durante e após o experimento (que resolvemos, a partir do segundo semestre de 2016, gravar e postar no Youtube - SegundaSabado).
O trabalho individual – esperado no processo, se torna mais promissor quando outras pessoas partilham a experiência em tempo real. A improvisação vocal em conjunto é base, então, para estudos em casa. A escuta imparcial do outro, a possibilidade de análise e síntese de tais estímulos, enquadrando-os à própria produção envolve refinamento, aproximação, entendimento, distanciamento, esperas, renúncias. Em um primeiro momento, as vibrações combinadas devem atender lacunas humanas – limitações técnicas como dificuldades de afinação, de memória, de estabelecer pulso, figura e fundo em música, domínio de tons, intervalos musicais, arpejos, formação de acordes, uso de escalas, domínio de formas e gêneros musicais, de rupturas com a forma, porém atenção ao conteúdo dela.
Cada experiência leva, em média, trinta minutos e é realizada uma vez na semana. Duas improvisações por sessão são suficientes. O ponto de partida pode ser um bordão com lábios fechados, acrescentando-se ao bordão grupetos com vogais e sílabas. Silêncios e variações de dinâmica são vitais no processo. O trabalho pode ser realizado com as pessoas sentadas, de preferência em círculo.
Como o sentido do tato evidencia a aproximação, prescrevemos na presente sessão a técnica do jin shin jyutsu, conhecida como arte de liberação das tensões. A nutrição celular (e a abertura dos campos sutis, dos centros de criação) depende do desbloqueio das zonas de energia estagnada, viabilizando, dentre outras coisas, o fluxo criativo. o tocar o outro quer duas coisas: mover o colega da zona de conforto; dar conforto através da presença, da emanação sutil de bons fluidos. Cada um só poderá ofertar aquilo que tem. O final do exercício determinará a impermanência das coisas. 
Um dos participantes toma a mão do outro e segura um dedo por vez, com seus dedos fechados sobre ele com leve pressão, por alguns instantes. Para uma compreensão básica, cada dedo concentra um estado psíquico – preferimos, nesta abordagem, apontar aspectos positivos relacionados ao toque – 1- interesse, equilíbrio da primeira profundidade; superfície da pele, recepção e processamento dos alimentos – estomago e baço (polegar); equilíbrio da segunda profundidade; derme; alento da vida – pulmões e intestino (anular); equilíbrio da terceira profundidade, essência do sangue; fígado e vesícula biliar (médio); equilíbrio da quarta profundidade; sistema muscular, circulação sanguínea; rins e bexiga (indicador); sistema esquelético, intuição; coração e intestino delgado (mínimo); o centro da mão – fonte da vida, diafragma e plexo solar.
Na aplicação da técnica, acrescentamos a emissão contínua de um tom, produzida pelos participantes e modificada a cada troca de toque; esse tom é produzido com os fonemas M, N e L. Escutar a nota emitida pelo outro e produzir um intervalo coerente é exercício instigante, que gera concentração.
O plano de fundo, formado pelas harmonia dos tons sustentados sugere a expressão de canções já conhecidas e pertencentes à história de vida de cada cantante ou mesmo a criação de versos, quadras, glosas. Um dos participantes vai então cantar, oferecendo ao outro palavras, gestos vocais, versos. O outro responde. As duplas formadas procuram escutar o entorno, gerando coesão. 

Na sessão seguinte, sugerimos iniciar os trabalhos com a escuta da gravação e análise do material – pontos positivos, técnicas vocais observadas, aprimoramento da execução, coesão, caos. E após esse exercício, partir para a próxima improvisação.











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