A
lei do céu esvazia o que está pleno e preenche o vazio; de acordo com a
lei do céu, quando o sol alcança o zênite, inicia seu declínio, e
quando chega ao nadir, ascende outra vez rumo a um novo amanhecer. De
acordo com a mesma lei, quando a lua está cheia, começa o minguante, e
na lua nova reinicia-se o crescente. Essa lei celeste atua também no
destino dos homens. A lei da terra consiste em alterar o que é pleno e
fluir em direção ao que é modesto; assim, as altas montanhas são
aplainadas pelas águas e os vales são preenchidos. A lei do poder do
destino corrói o que está pleno e faz prosperar o que é modesto. Os
homens também odeiam o que é cheio de si e amam o que é modesto.
O destino dos homens segue leis imutáveis que têm de ser cumpridas. Mas o
homem tem o poder de moldar seu destino, na medida em que sua conduta o
expõe à influência de forças benéficas ou destrutivas. Quando um homem
está em posição elevada e é modesto, ele brilha com a luz da sabedoria.
Quando ele está numa posição inferior e é modesto, não pode ser
ignorado. Assim o homem superior leva seu trabalho à conclusão sem
vangloriar-se daquilo que conseguiu.
Conheci o Professor Inami Custodio Pinto no inicio de 1981. Eu era cantora do Coral do
Colégio Estadual do Paraná e na noite do concerto eu fazia o solo da
Gralha Azul. O Professor estava na plateia e, nos cumprimentos,
perguntou-me se eu gostaria de conhecer a Faculdade de Educação Musical
do Paraná, onde ele ministrava aulas de Folclore. Assim começou meu
contato com essa figura emblemática, que resignificou minha juventude e
encaminhou meu trabalho musical. As aulas do Inami eram simples na
forma. Inami contava-nos causos de suas andanças pelo litoral
paranaense, alertava sobre a perda de identidade dos povos pescadores,
ia nos cantando cantigas de índios, ensinando antigas danças e costumes,
incutindo em nos amor pela natureza, pelas celebrações, respeito as
diferenças e níveis de evolução. Vivemos com o Inami um momento de
transição entre aculturação e reconstituição do folclore litorâneo
paranaense. As casas de Fandango em Valadares andavam meio caladas na
década de 1980. Os jovens do local estavam a preferir ouvir a musica
eletrificada pelos sistem da época, aqueles "radiões " que os dançadores
de street dance usavam colados ao ouvido. Compreendemos, através dos
ensinamentos do Inami, que o folclore responde as necessidades do povo e
sobrevive de acordo com tais necessidades. Que pode ir e vir. Como as
fases da lua. Que as tradições são importantes ate o momento em que se
adequem ao cotidiano da comunidade. Que devem mover-se, tais tradições.
modificar-se, reinscrever-se em novos cotidianos. Que o folclore,
portanto, e dinâmico e renovável, funciona como o renascer das coisas
após uma tempestade. Que Curitiba sempre foi um porto de passagem, rota
de tropeiros, lugar de viajores, que essa natureza desenraizada da
cidade e sua gente e uma característica importante e fartamente
investigável do ponto de vista afetivo e científico. Ate hoje, baseada
no modo de ensinar do Inami, sei refazer as marcas do Fandango com meus
alunos. Sei cantar a Balainha, a Cana Verde, o Cua Fuba, sei fazer
Barreado e uma boa sopa de peixe. Sei dizer e musicar varias lendas
indígenas, a mais marcante a de Naipi e Taroba. Do universo litorâneo paranaense
apresentado pelo Inami veio o meu interesse pela musica do mundo. Ai
conheci o Terra Sonora, e então tem inicio outra historia. Obrigada, Inami, pela sua participação afetiva.
A alegria de sentir "as coisas mais simples".
Um abraço carinhoso a essa equipe que vem cantando comigo.
Este é o SegundaSabado.
O lugar é o atrio do Colégio Bom Jesus, FAE, em 28 de setembro de 2013.
Obrigada!!
* do dia 26 de setembro, quando descobri uma pequena caixinha na Faculdade de Artes, em que se guarda as energias doces do canto.
E vamos fazendo a nossa parte.
Porque cantar (e escrever e cantar) sempre foi a minha saída para não enlouquecer.
Para não "desviver".
Tornar a estudar dinâmica de grupo.
E transformar o singelo grupo numa orquestra de vozes.
O som e bem bonito.
Acredito que sera a grande recompensa que levarei da escola,
antes de encerrar lá minha passagem...
E caiu chuva tão opulenta sobre o telhado de eternit
que nos calou a voz.
E o exercício quedou-se a meio.
Mas algo nos fez permanecer,
a murmurar canções
e raios.
Olha que interessante, o primeiro apoio palpável que a escola em que leciono há 25 anos me deu. Apareceu a oportunidade, interessa ao Mannaz, ofereci o trabalho e então vem essa divulgação interna, tão bonitinha...
Deixa eu aproveitar e postar essa foto, um pouco embaçada, mas um arquivo valioso, do Mannaz e de outros voos.
*esquerda para a direita: Monica Soares, conheci a segunda menina nesse dia da foto, ainda não sei seu nome. Jordana Solleti e Fernanda Fausto. E eu ai na frente, bem Mme Suzatska. Foto tirada pela Cida, a técnica de som do estúdio da FAP. Gravamos um dos muitos improvisos vocais espontâneos que temos feito ao longo do ano. Trabalho do dia 19 de setembro de 2013.
Ah,
"passar o rodo" é uma expressão futebolística, que significa massacrar o
adversário e marcar gols e ganhar o jogo, quiçá o campeonato.
Nesse jogo de chegar e cantar num grande grupo, como o que temos feito desde agosto, não é para se encontrar adversários.
Estou tentando nos colocar em contato com estranhos, que cantam também,
que tem potência. Estranhos, estrangeiros, diferentes, outros sons,
outras texturas, outros raciocínios musicais. Para que o nosso dê um
salto quântico. De uma vez por todas.
Como foi estranhamento
puro o nosso encontro com a rapaziadinha na última quarta. Recuamos, é
certo, talvez para não fazê-los pressionar a coisas que eles não podiam
nos dar de pronto, mas foi um bom trabalho, repito! Eu iria ficar
surpresa caso algum deles viesse me pedir: vamos fazer um som desses na
formatura. Havia mediadores demais, para conter, refrear. Refrear, talvez, o
desejo implícito de "massacre".
Massacre é a parte primeva da
humanidade. Acredito que nossa geração não poderá presenciar aos homens
depondo enfim as armas e amando, porque amar é bom, e amar tudo, o que é
sólido, líquido, gasoso e outros estados de ânima que desconheço.
O medo virá, é certo, a gente se sente sozinho, é certo, no meio de
tanta gente. Barulho e exacerbação de egos ocorrerá. Confusão sísmica no
corpo ocorrerá. Não dá para saber se é excitação sexual, se um jato
exagerado de adrenalina. Qualquer coisa assim. Daí que me ocorreu falar
em "passar o rodo". Que é essa a descrição que jogadores do naipe do
Zico, Sócrates, Rai fizeram, no que se refere a saber que o jogo estava
ganho antes de sair do túnel para o campo.
Na última quarta-feira não fomos
vorazes, fomos doces, porque afinal eram "crianças acuadas" partilhando a experiência. Ledo engano, voces verão no video o rito das fileiras. Eu
estava angariando no exercício a força, a mais primeva, antes de fazer
as pazes com a potencia.
E Deleuze e Guattari poderiam
participar desse papo cabeça unilateral. E o cara da percepção, Satre
também,mas o outro, fugiu o nome, já lembro. E Kandinski e seu "Do
espiritual na arte" - o termo espiritual neste trabalho, cantante, tem
outra conotação que a que professamos. Bonito igualmente, mas outro
olhar sobre o objeto. Merleau Ponty é o cara cujo nome me escapou, vixi... papo cabeça
demais... Bora ouvir Wladmir Godar e seu Mater...
A garganta
vai secar, a mente trava e as conexões neuronais tem pequenos colapsos.
Pode me chamar do que quiser, estou pedindo para que você, num momento
desses, la no dia 24, mexa-se na roda e segure a mão de alguém menos
estranho. Ou do mais estranho de todos. Pegue a mão da pessoa e perceba a
potencia. Potencia é diferente de força, de gana, de garra. Potência é
antes da vida, é o que gera a vida.
Bem,
hoje demos mais um passo em direção a novas descobertas. Retornamos a
questão do corpo em cena, e a busca era entender que a voz pertence a
ele, trabalha com ele em atitude lógica. O corpo fala. Desde o começo de
minha carreira presto atenção nisso, na grande ferramenta concreta que possuímos, que aponta sensações, desequilíbrios, excessos e nossa beleza
peculiar. Tomara as câmeras tenham captado os esforços de todos em
busca dessa revelação da beleza, em busca de superação e entendimento,
dos constrangimentos, dúvidas, pudores e quereres. Cinco pessoas, e
parecíamos umas oitenta, foi essa a impressão que vocês me deram. Alguns
de nos se divertem mais nessas tarefas, se entregam mais, aprofundam
mais sua percepção, de si, do outro e do entorno. Sentem-se meio
"bobos", não acreditam de pronto que o processo levara a algum objetivo
especifico. Outros tem de esperar novas oportunidades, novos exercícios
com enfoque em outras áreas do conhecimento. Outros dormem, dormem o
sono das borboletas enquanto encapsuladas em seu casulo. E eu estou
generalizando aqui, falando das pessoas em geral e não desse ou daquele
participante presente ao processo hoje. Em consonância com alguns
estudiosos do movimento corporal, demos ênfase aos movimentos e deixamos
que a voz fosse balbuciando, ainda cindida do corpo, sem forma,
especialmente nas duas primeiras sessões. Hoje produzimos cinco!! As
nossas meninas estavam doentinhas e mesmo assim vai aparecer muita coisa
bonita construida por elas no vídeo. Impressionante a resposta do corpo
aos arranjos, vamos esperar e ver. Certamente ha muito mais coisas a
comentar. A palavra síntese de trabalho, SAÚDE MENTAL impressionou-me
bastante. Muito cedo chegaremos a estágios mais avançados, não só
musicalmente mas no que se refere a sensibilidade e sentido da vida.
Gostaria de lembrar que somos LEIGOS em musica, uns mais outros menos.
Mas leigos. Isso não significa que estejamos fora do universo dos
artistas. Estamos "levantando a lona do circo" e espiando la dentro, a
jaula dos leões, elefantes, cães, macacos, cavalos, ursos, focas, gente
pendurada, gente saltando, sendo atirada de canhões. Palhaços sem
pintura passando seus textos e marcas, malabares no ar. Pisamos no
"breu" e muito respeitosamente nos aproximamos da arena, onde a mágica
acontece. Se somos vocacionados, alguns de nos, quem sabe. 51 anos, e
muito mais da metade eu vivi sob a lona, adestrando borboletas. E
cantando, quando algum artista se machucava. Entrou por uma porta, saiu
pela outra, o rei meu senhor... Ah, num certo momento eu perguntei aos
presentes se alguém fazia falta ali, se haviam sentido falta de alguém.
Esta na fita, embora eu tenha pedido que o Igor apagasse... to
reconsiderando, pode deixar como esta e avaliamos juntos as reações.
Utilizo alguns conhecimentos que obtive em Biodança , Psicodrama, Dinâmica de Grupo, Técnicas de Alexander, Feldenkrais, Eutonia,
Alexander Lowen, Moreno, Laban, o trabalho do Grupo Corpo, o trabalho do
Marcos Leite, dentre outras praticas. Wilhelm Reich e o teórico
principal. A função do orgasmo e seu livro mais famoso. Obrigada. Boa
noite. Segunda tem mais.
Gostaria
que vocês refletissem sobre a forma como uma voz interfere num
ambiente. Escolham esse ambiente, por exemplo, esse aguadeiro que postei
aqui. Como vocês cantariam num ambiente assim? O que cantariam?
Estariam vestidos? Nus? Sobre as pedras, ao sol, ou dentro da agua,
mexendo nela? Etc, etc, etc... sua imaginação precisa despertar nesses
exercícios e esse e um critério que não se ensina. Ou a predisposição e
fraca, forte ou mesmo inexistente. A voz se comporta de forma diferente
em diferentes ambientes? Cantando o que? Dizendo o que? Ha uma distancia
entre a forma de cantar e falar?
Gostaria ainda que todos refletissem
sobre essa historia de gostar ou não gostar da própria voz. Sobre
autoamor, portanto. Sobre ser o que se e. Ou o contrario. Agradeçam por
possui-la, a voz, por poder utiliza-la. Assumam de uma vez que lhes foi
facultado usar a voz publicamente, autorizado, eu diria. E vocês a usam
com as ferramentas de que dispõem, sejam elas top line os as mais
simplórias. Criem situações de utilização da própria voz. Treinem no banheiro.
Um discurso, um concerto, frases soltas, ditas e cantadas de formas
distintas. Insisto também para que o repertório cotidiano se expanda e
seja reiteradamente exercitado, quem sabe igualmente no banheiro. Se incomodar o
vizinho, convide-o pra cantar junto e vice-versa. E preciso que esse
exercício solitário de cantar seja repetido muitas vezes. So assim vem
novidades quando reunimos as experiências
individuais e criamos o espectro coletivo. Ainda há muito a ser pensado
neste campo, e um terreno inesgotável de expectativas e investimentos.
algumas sugestões de textos para treinamento, criação livre, colhidos do acervo de roberto reitenbach, facebook:
"Você encontrará à esquerda das moradas do Hades uma fonte, junto a ela está um cipreste branco. Desta fonte não chegue perto. E encontrará outra, do lago da Memória escorrendo água fria, e os guardiões estão à frente dela. Diga: 'sou filho da Terra e do Céu estrelado, mas minha raça é celeste, isso vocês próprios sabem. Estou seco de sede e pereço: então, deem-me rapidamente água fria que escorre do lago da Memória.' Estes lhe darão de beber da fonte divina; deste momento em diante você reinará entre outros heróis". Lâmina de Petélia Havia marinheiros No país de Helena Que morriam ao pôr do sol
E havia Helena que sonhava Fazer um dia tranças às ondas E um berço muito grande para o mar
Daniel Faria Que belo que é não pensar ao ver um raio: “A vida é fugaz”.
Bashô Esvai-se o som na noite; sobe o perfume das flores — um sino tocou.
Nesta pratica
que aprimoro há trinta e três anos, utilizo-me de alguns pré-requisitos que
considero essenciais no processo: 1 - antes de ser, eu tenho que estar no
espaço onde vou cantar. 2 - Finco os pés onde me encontro. 3 - Recorro às
referencias de movimento indicadas pelas minhas vértebras e quadris. 4 - Ponho
minhas articulações a serviço da gravidade, em movimento helicoidal. 5 - Eu me
adono do espaço interno e externo, abraçando-o com o som da minha voz, ou seja,
eu endereço a voz ao um determinado obstáculo e ela me e devolvida pelo sistema
de realimentação acústica. O som universal, o AUM, serve perfeitamente a este
primeiro investimento vocal. Ao trabalhar tons sustentados, tenho a
oportunidade de avaliar os limites da voz, se ela toca o obstáculo e volta para
mim, se ela e fraca ou forte demais neste movimento. Se eu sei fazer foco. Sair
da zona de conforto e tarefa respeitosa, que demanda tempo. 6 - Ouvir o retorno
da voz e a alma do processo. 7 – Respirar e entender o caminho da ancoragem e
sustentação dos tons em outro espaço interno que não a laringe e a faringe. 8 -
Em grupo, a sensação acústica dos vários tons combinados, seguidos de grupetos,
ostinatos, pequenas melodias sobrepostas cria uma sensação de arranjo que atua
sobre o tônus vocal, provoca a criatividade e o ajuste constante da
emissão.9 - Encaixar a cabeça no “figurino”
passa a ser questão de som vocal mais elaborado. Dessa forma facilita-se o
processo de compreensão da voz como parte integrante do corpo. Os pés, a coluna
vertebral e a cabeça encaixada garantem o inicio do aprendizado de diferentes
afinações.Como a voz “e a maior
bandeira”, “da a maior bandeira”, “entrega o jogo” através da exposição de
certas emoções, o exercício do canto em conjunto cria barreiras protetoras,
ampara os cantantes, a ponto de eles se sentirem livres para improvisar com
poucas resistências. A sequencia do processo consiste em trabalhar a emoção
correta. Aplicar a emoção correta ao tema musical vocal. Mentir bem ou ser
sincero na mentira faz parte do jogo.Passar
verdade, carisma, ritmo e conteúdo com a voz e treinamento diário sobre
situações especificas. Com muito pouco
tempo de pratica o cantor se convence de que a vaidade atrapalha o dono da voz.
E então ele se esforça por buscar a verdade. As improvisações vocais tem como
objetivo estimular a criação, a autenticidade e originalidade do cantante.
Espera-se que o cantante expresse pensamentos e sentimentos com ações
conscientes e versáteis. Ou saiba como aplicar técnicas para atingir
determinados efeitos, tal qual artista de circo. Atividades positivas de amor e ordem permitem haver quantidade e velocidade perfeitas. Este e o propósito das improvisações vocais. Esta experiência pode ser libertadora e vitalizadora,
quando aproveitada para o autocrescimento.
E Karla Izidro complementa:
A voz não tem começo,mas um fim.
Ela pode estar na sola de seu pé,
nas vértebras de sua coluna,
na ponta de seus dedos.
Presa no joelho tenso,
dura no maxilar travado, fora de si sem a sua nuca. A voz está em todo o seu corpo. e se prolonga ao ouvinte que te escuta. Mais do que tudo a voz é sua identidade. E vive do que você a alimenta, ou seja, você mesmo.
A voz é ancestral , nosso instrumento primeiro...Feito pra cantar ou
falar?O sentido da voz falada está na semântica e na voz cantada na
melodia. Cantar também é uma forma de contar histórias,de revelar
sutilezas e emoções. De acordo com Paul Zumthor as tradições orais
criam uma rede de intercâmbios vocais vinculados a comportamentos mais
ou menos cifrados, cuja finalidade essencial consiste em manter a
continuidade de uma percepção da vida. Os cantos étnicos trazem em si
uma gama de informações sutis sobre um povo,um lugar,uma paisagem.
Quando uma pessoa canta algo que a motiva para isso ,esse canto estará
relacionado profundamente com sua energia criadora. Será essa energia
que impulsionará toda a sua atuação inclusive sua técnica vocal.